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Síndrome do Impostor - Quando o sucesso parece sorte e o medo vira rotina

Atualizado: 24 de jul.

"Você não pode viver a vida para agradar os outros. A escolha deve ser sua."

- Alice no País das Maravilhas.


Começo parafraseando Alice no País das Maravilhas e já adianto que será muito recorrente nesse texto. Alice trás exemplos claros sobre como muitas vezes deixamos de existir para ser o que os outros querem que sejamos - sempre em busca de agradar. Então vamos lá...


Você já teve aquela sensação de que, por mais que esteja se esforçando, fazendo tudo certo e até recebendo elogios, uma hora vão descobrir que você é uma farsa? Que está "enganando todo mundo" e que não merece o lugar onde está? Se sim, calma: isso tem nome — Síndrome do Impostor — e, acredite, é mais comum do que parece.


Atendo muitos pacientes que estão em burnout, completamente esgotados, e que sofrem dessa síndrome. Eles estão sobrecarregados, sempre se cobrando mais, tentando ser perfeitos… e mesmo assim sentem que nunca é o suficiente. No fundo, é como se estivessem esperando alguém aparecer e dizer: “ok, já deu, a gente descobriu que você não é tão bom assim”.


Mas o que é exatamente essa tal de Síndrome do Impostor?

É quando a pessoa, mesmo tendo conquistas reais — um bom trabalho, promoções, elogios, prêmios — acredita que tudo foi sorte, que enganou os outros e que, em algum momento, será “desmascarada”. Isso vai além de insegurança, é uma autossabotagem constante, que pode muitas vezes leva à exaustão física e mental.


E isso pode ter raízes mais profundas, é na infância que as crenças centrais (desamor, desvalor e desamparo) são formadas, e fortalecidas ao longo da vida. Aqui, me refiro especialmente a crença de "Desamparo", elas podem estar presentes através de comentários e julgamentos que denigrem a imagem do outro, reforçando um sentimento de incompetência e inadequação. Pensamentos como "não sou capaz", "Sou incompetente", "Não faço nada direito", são importantes reforçadores para a Síndrome do impostor.


Quem trouxe esse termo à tona foram as psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes, em 1978. Inicialmente, elas perceberam isso em mulheres que exerciam cargos de gestão. Hoje, a gente sabe que atinge todo mundo: homens, mulheres, estudantes, líderes, criativos, mães, autônomos… Não escolhe profissão, idade ou cargo.


E sabe o que piora tudo isso?

A comparação. Redes sociais, ambientes ultra competitivos, chefes que exigem 110% o tempo todo, e aquela voz interna dizendo: “você não devia estar aqui”.


“Quem é você?”, perguntou o Gato. “Eu... eu não sei mais”, disse Alice.

Essa fala diz muito sobre quem vive com a síndrome. A pessoa se desconecta da própria identidade. Vira especialista em agradar as pessoas, atender as expectativas dos outros.


A ligação com o burnout, quando o medo de fracassar vira estilo de vida

Na clínica, é comum surgirem pessoas que está vivenciando o esgotamento tentando provar que merece estar onde está. Pessoas que trabalham além do horário, se culpam por qualquer erro, vivem em estado de alerta e nunca relaxam. Tudo por medo de parecer incompetente.


O filósofo Byung-Chul Han define isso bem em A Sociedade do Cansaço: vivemos numa época em que o próprio sujeito se explora, e isso é mais cruel do que ser explorado por alguém. A cobrança vem de dentro.


Qual impostor você é?

Segundo a especialista Valerie Young, autora e especialista no assunto, existem cinco subtipos de impostores, cada um com suas armadilhas mentais.

O perfeccionista nunca acha que seu trabalho está bom o suficiente — mesmo que tudo esteja certo, ele foca nos mínimos defeitos e se cobra por eles, como quando entrega um relatório impecável, mas perde o sono por um erro de digitação. O super-heroí, que mede seu valor pela produtividade e se culpa por descansar, como quem tira uma tarde de folga e passa o resto do dia tentando "compensar" com mais trabalho. O gênio de nascença acredita que precisa aprender tudo de primeira — se encontra dificuldade, desiste, achando que não é capaz, como quando larga um curso só porque teve dificuldade nas primeiras aulas. O protagonista evita pedir ajuda, achando que isso é sinal de fraqueza, e passa horas resolvendo tudo sozinha, mesmo quando há gente disposta a apoiar. Já o especialista nunca sente que sabe o suficiente, por mais diplomas ou experiência que tenha — é quem vive adiando projetos ou se sente inadequada só porque não domina absolutamente tudo sobre um assunto.


Como lidar com isso, então? Tem saída?

Tem, sim. E o primeiro passo é perceber que isso não é fraqueza. É um padrão de pensamento que pode — e deve — ser transformado. Algumas estratégias podem ser trabalhadas como:


Reconhecer o padrão: só de saber que isso tem nome, gera alivio. Você não está sozinho, e isso não é sinal de incompetência.

Guarde evidências reais: elogios, conquistas, feedbacks. Leia nos dias de dúvida.

Fale sobre isso: abrir o jogo com amigos ou colegas pode ser libertador. Muitas vezes, eles sentem o mesmo.

Procure ajuda profissional: uma boa psicoterapia vai te ajudar a se conhecer melhor e desmontar essas crenças limitantes.


E lembra daquela cena de Divertida Mente, quando a Alegria tenta fugir do Tristeza o tempo todo, até entender que ela é necessária também? Pois é. A gente não precisa apagar o medo ou a dúvida. Mas sim, aprender a conviver com eles de forma mais gentil.


No fim das contas, você não é uma fraude. Você é humano.

"Certo ou errado, o caminho que escolheu é seu. Aparentemente pensarás que tomou a decisão errada, mas não, pode ter certeza que tirará valiosas lições para seguir o caminho... Nós nunca descobriremos o que vem depois da escolha, se não tomarmos uma decisão. Por isso, entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos."

- Alice no País das Maravilhas.


Pode até parecer que todo mundo sabe exatamente o que está fazendo — menos você. Mas vou te contar um segredo de bastidor: a maioria está improvisando também. Ou seja: vai com medo mesmo. E se parecer difícil enxergar tudo o que você já conquistou, saiba que não precisa fazer isso sozinho(a) — procurar uma psicóloga pode ser o primeiro passo pra se reconectar com quem você realmente é.


Vamos conversar?



Referências:

Filme: Alice no País das Maravilhas

Livro: A Sociedade do Cansaço - Byung-Chul Han



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